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Assalto ao Pyramid Plaza

Assalto ao Pyramid Plaza

Assalto ao Pyramid Plaza, RPG - Mestre Charles Corrêa
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Eu estava concentrada, mas ainda faltavam quatro pinos para destrancar o cofre. O relógio estava marcando pouco menos de 4 minutos, e era o suficiente pra eu arrombar. Eu sabia que o chefe não gostava de cofres digitais porque poderiam ser hackeados, e por isso ele tinha aquele Mosler original de 1m de altura e meia tonelada, onde guardava os documentos mais importantes na sua sala. 

Click! Estava a três pinos de abrí-lo. Pela lente vermelha dos meus óculos dava pra ver o resto do bando balbuciando. Uns me xingavam, outros comentavam baixo enquanto olhavam para a minha bunda. Eles riam, sem notar que eu estava usando fones de ouvido. Talvez pensassem que eram para ouvir o clique das engrenagens, mas na real eu tava ouvindo ACDC no talo. A arte da abertura de cofres mecânicos é sentir a vibração do estalar das engrenagens.

— Como é, maneta? Consegue abrir esse cofre ainda hoje?

Como não dei importância, Damasco me deu uma catucada com o pé para chamar minha atenção. Olhei de cima a baixo e cuspi meu chiclete no couro do sapato ridículo dele. Eu mostraria o dedo do meio e mandaria ele se foder, se o Victor não tivesse arrancado minha mão direita na noite anterior. Mais de dez anos trabalhando pra esse porco desgraçado e é isso que eu ganho (ou perco) por falhar numa missão.

Mas eu estava de boa. Ele achou que me deixaria maneta e ficaria por isso mesmo, mas estava enganado. Tinha muita gente de olho nas promissórias que o Victor tinha recebido do Don Carmino pelas dívidas que o cartel contraiu na fronteira de Juarez. Foram milhões pagos em notas assinadas com sangue que seriam reconhecidas e aceitas por qualquer banqueiro de Las Vegas.

Reuni sete caras que não tinham nada a perder e armei o golpe. O plano era entrarmos todos no cassino do Pyramid Plaza onde fica o escritório principal do Victor e roubarmos as notas promissórias, dando um prejuízo forte no chefe pra ele aprender a não mexer com Rhonda Locks.

Click! O segundo pino destravou e ainda restavam mais de três minutos até os alarmes dispararem. A impaciência era visível no semblante da equipe, mas eu estava tranquila.

George Line foi o último a chegar e entrou correndo antes de bater a porta com força. Ele estava vestido de garçon com um terno vermelho e usando patins sujos de sangue, que deixaram um rastro que se encerrou no tapete branco de pele de urso.

— Porra! Eles estão vindo! — Eu li as palavras que se revezavam com a respiração ofegante em seus lábios trêmulos. Agora a equipe estava ali, completa, só esperando pelo prêmio antes de fugir. 

Antes disso, os irmãos Dawley foram os primeiros a chegar e entraram pelos fundos vestidos de encanadores. Havíamos entupido um cano importante da cozinha na noite anterior e depois interceptamos a ligação que o cassino fez para a companhia, garantindo a entrada da dupla.

Ramone e Salazar eram jogadores natos e tanta “boa sorte” permitiu que atraíssem a atenção da segurança no cassino, enquanto Jeff limpava os bolsos dos funcionários em busca de chaves e cartões de acesso. Não foi difícil chegar ao topo da pirâmide onde ficava a sala do Victor. O problema era que a sala era toda blindada, à prova de som e de balas e a única saída seria pelo mesmo lugar de onde viemos. Tudo precisava ser sincronizado e finalizado antes do alarme tocar.

Click! O último pino se foi e a trava se soltou num baque seco, deixando uma fresta de dois dedos entre a porta e o cofre. Restava pouco mais de um minuto para nossa fuga. Fiz questão de me colocar ao lado da porta do cofre e abri-la de modo que todos vissem a nossa passagem para a aposentadoria. Mas não havia papéis ou dinheiro.

O cofre estava vazio, exceto por um objeto que se revelou por completo quando Jeff apontou uma lanterna lá pra dentro. Era uma mão. Era a porra da minha mão, com o dedo do meio levantado e amarrada em uma grossa petaca de explosivos, que foram ativados pela abertura do cofre com contagem de apenas dez segundos. Foi o suficiente para eu pensar e agir.

Gritaria e pânico. Os caras não foram profissionais e começaram a tentar abrir as janelas blindadas, sem sucesso. Os irmãos Dawley correram pra porta e tentaram arrombá-la, inutilmente. Ramone, um cabeludo magro com terno prateado, me olhava com um sorriso psicótico, parecendo ler meus pensamentos. Não demorei para jogar a mão com explosivos em cima dele e pular pra dentro do cofre. Tentei fechar a porta, mas Ramone conseguiu segurá-la com uma das mãos. O cofre não tinha alça ou saliências por dentro e a única maneira de fechar a porta era tirando a mão do Ramone dali, e foi aí que comecei a chutá-la. Porém, ele foi puxado violentamente por Salazar, que pretendia também entrar no cofre e os dois começaram uma briga que me emprestou tempo suficiente para puxar a porta com um pano.

Junto com a explosão, soou o alarme. 

Como dizem “a gente dá a mão, e esses putos querem o corpo todo”.

Baseado em Wiseguys, um cenário de RPG para Savage Worlds que aborda a vida do crime organizado, este conto em breve será uma aventura. Alguns dos termos e jargões encontrados aqui fazem parte do livro. Acompanhe e participe do financiamento coletivo de Wiseguys clicando no botão abaixo.

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Charles Corrêa
Charles Corrêa

Programador Web, Jogador de RPG e Jogos Eletrônicos, Mestre nas horas vagas. Costuma jogar com as classes Paladino, Monge e Feiticeiro de D&D, Dragonborn, Aasimar, Elfo e Meio-Elfo são as Raças favoritas.

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