Salve, Penna na área!
Hoje o papo vai ser sangrento, trágico e violento. Vamos falar de John Wick. Mas calma lá, não se precipitem. Não é aquele John Wick, o do cachorrinho, é outro John Wick, o escritor. Apesar de que, eles têm algo em comum, a pancadaria comendo solta nas suas artes.
Trago até vocês Blood & Honor, um RPG de tragédia samurai. Lançado originalmente em 2010 pela RedBox, o jogo possui uma versão básica (somente o livro de regras) e a versão de luxo (uma box que vem com escudo do narrador, mapa do Japão feudal, dados de madeira personalizados e cartas de referência rápida para os daimios) – essa um pouco mais rara de encontrar. O jogo se passa no Japão feudal, mas sem precisão histórica. Se trata mais de um Japão fictício, que, se formos traçar um paralelo como mundo real, emula o período Sengoku (1467-1603) ao período Edo (1603-1868).
E como é?
B&H, como falei acima, é um jogo de tragédia samurai, o que o distancia bastante de outro RPG do mesmo autor, o famoso Legend of the Five Rings. Neste, o foco maior é na narrativa compartilhada, onde narrador e jogadores construirão juntos a história, os clãs, as intrigas e batalhas, deixando a parte de fantasia para seu primo de anéis.
Aqui, a parte mais importante para o cenário é o clã, o qual a mesa toda pode fazer parte do mesmo ou criar vários clãs para cada um fazer parte. É no clã que começa toda a criação de personagens, inicialmente o nome (que pode ser relevante em certas cenas), escolhendo o daimio e suas características (chamadas de Giri), quais os comércios e serviços que o clã oferece de melhor e por fim, o samurai que cada jogador irá interpretar.
Os eventos são divididos em estações, que, à medida que vão passando, a depender de como aconteceram os eventos, os jogadores implementarão os negócios do clã, poderão ter angariado mais terras para seu senhor, descoberto planos de outros daimios e, claramente, como não poderia faltar, arrumado encrenca com outros clãs, podendo culminar em guerras (olha aí, sangue e violência que comentei).
Mas rola dado?
Rola. Não é o foco, mas rola. Por ser um RPG narrativista em sua essência, as rolagens não são encorajadas com frequência, mas quando os jogadores ou o narrador assumem Riscos – ações que podem influenciar dramaticamente na narrativa ou na vida de outros personagens – os dados decidem. Todavia, é um pouco diferente do que estamos habituados.
O sistema utiliza apenas o d6. A depender do risco a ser tomado, vão se somando dados à pool da rolagem de acordo com diversas características do clã, daimio e samurai. Esse dano de bola de fogo montante de dados deve somar 10 ou mais na rolagem, a qual é a dificuldade padrão (nunca muda). Se vencido o número alvo, o jogador tem a prioridade da narrativa e descreve como ocorreu a cena (seja ela bem sucedida ou mal sucedida – sim, o jogador pode escolher falhar na ação!); caso não atinja 10 a somatória, o narrador quem descreve toda a cena do risco tomado.
Outra regra interessantíssima do sistema é a regra das Apostas, para quando se tem muitos dados para rolar, facilitando alcançar 10. O jogador pode “apostar” dados, deixando-os de lado antes de rolar. Para cada dado apostado, se obtiver sucesso na rolagem, a mesa toda poderá incluir uma informação à cena (parece complexo, mas é mais fácil que parece). Dentro disso, também há a regra de ouro das apostas, que não permitem refutar uma informação adicionada por outro player, mas pode ser incrementada ou mesmo atrapalhada.
Tá, mas e o Yasuke?
Em suma, apesar de B&H já completar 14 anos, ele vem ao encontro dos RPGs que têm ganhado público nos últimos 10 anos, os quais tiram o papel de criador mor da narrativa das mãos do mestre e coloca na mão de todos que estão jogando, enfatizando mais a história e os conflitos dos personagens que rolagens de infinitos dados e combates extensos.
Ah, o Yasuke, ele chegou no Japão em 1579, então claramente pode ser um NPC importante para uma campanha que queira desenvolver, deixando mais verossímil a aventura.
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