Rebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG)

Rebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG)

Rebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG), RPG - Mestre Charles Corrêa
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Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!

“Se quiser dar um soco num nazista espacial, este jogo é pra você.”
— Trecho real do prefácio de Rebel Scum, RPG censurado pela Roll20

Na manhã do dia 8 de agosto de 2024, o time da 9th Level Games recebeu um e-mail curto e direto da equipe de parcerias da Roll20. O assunto? Um pedido formal para remover um trecho considerado “politicamente ofensivo” do livro Rebel Scum, lançado em 2021 e até então à venda na DriveThruRPG — a maior plataforma digital de RPG do mundo. O jogo, que propõe aos jogadores encarnar rebeldes enfrentando um império autoritário num futuro decadente, foi sumariamente delistado. A infração: ser abertamente antifascista.

Rebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG), RPG - Mestre Charles Corrêa
A edição física de Rebel Scum traz visual inspirado em action figures dos anos 70 e uma mensagem clara: “punch Space Nazis right in the face“.

A mensagem, enviada por Meredith Gerber, dizia que o título havia recebido “alguns relatos de clientes” e que, embora quase todo o conteúdo estivesse em conformidade com as Diretrizes de Produto, uma seção específica continha “posições ou agendas políticas explícitas”. Anexa, uma imagem nomeada “political.png”. O conteúdo? Um prefácio onde o autor declara que Rebel Scum não é para supremacistas brancos, antivax, criptofascistas ou qualquer simpatizante do autoritarismo disfarçado de fandom — especialmente o de Star Wars.

A resposta da editora foi imediata: “Prefiro que o jogo seja removido.”

Política ou Censura? Onde Rebel Scum foi “Demais” para o Mercado

Em um mercado onde títulos violentos, apocalípticos ou explicitamente coloniais continuam à venda, como o Achtung! Cthulhu, com financialento coletivo pela New Order. O problema com Rebel Scum parece não estar no tom, mas na direção. O jogo não se limita a alegorias: ele nomeia inimigos ideológicos. E isso, segundo os termos da Roll20/OneBookShelf, é ir longe demais. A empresa, que recentemente unificou suas plataformas sob o selo Roll20 Marketplace, adota uma política pública de neutralidade, mas recorre a ela como mecanismo de exclusão de vozes politizadas — ou melhor, de vozes com certas posições políticas.

Se o sistema de regras usado pelo jogo, o Polymorph, é leve e acessível, com foco em cooperação narrativa, sua introdução é contundente. Ao chamar o mestre de jogo de GovernmentRebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG), RPG - Mestre Charles Corrêa (Governo) e os jogadores de NEXT REBELLIONRebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista (Artifício RPG), RPG - Mestre Charles Corrêa (a Próxima Rebelião), o autor não está apenas fazendo trocadilhos. Está usando a estrutura do RPG como ferramenta crítica. “Estamos vivendo uma idiocracia pós-pandêmica, pós-capitalista, pós-verdade”, diz o texto do jogo na página 6. “Este jogo é uma forma de resistência simbólica.”

Na versão atual disponível no Itch.io, o jogo se mantém intacto. Nenhuma vírgula foi removida.

Aparentemente Neutros, Mas Sempre Apagando o Mesmo Lado

Não é a primeira vez que a DriveThruRPG remove conteúdo com viés progressista enquanto mantém livros com temática racista, supremacista ou misógina. Em 2016, após pressão da comunidade, um suplemento chamado Tournament of Rapists foi finalmente retirado — depois de semanas vendendo. Já Rebel Scum foi removido menos de 24 horas após o aviso. Dois pesos, duas medidas.

As diretrizes da plataforma proíbem “ódio político”, mas deixam o termo vagamente definido, abrindo brechas para subjetividades convenientes. O que é “ódio político”? Dizer que nazistas são os vilões não deveria ser polêmico. E ainda assim, Rebel Scum foi penalizado por afirmar abertamente que não é um jogo para supremacistas brancos, negacionistas da vacina, fanáticos reacionários ou criptofascistas disfarçados de fãs de ficção científica. O que está em jogo não é o teor da denúncia — mas o fato de ela ser direta demais para os padrões de “neutralidade” comercial.

Para muitos criadores, a resposta parece clara: a censura sempre recai sobre quem nomeia o problema, nunca sobre quem lucra com ele.

O Jogo Como Ato: O Que Rebel Scum Está Dizendo

Lançado originalmente no final de 2021, Rebel Scum bebe da fonte da ficção científica dos anos 70, das figuras de ação genéricas, de estética kitsch de capas pulp e da iconografia rebelde popularizada por Star Wars. Mas ao contrário das produções da Disney, este RPG não evita tomar partido. Seu prefácio é um manifesto.

Entre os trechos destacados por Gerber no alerta da Roll20 está a frase:

“Eu chamei a REPUBLIK de REPUBLIK para podermos dizer ‘dei um soco naquele Republikan na cara’.”

Essa escolha não é gratuita. O texto conecta as decisões narrativas ao cenário político global e denuncia o “corporativismo dos nossos sonhos” — empresas que controlam até a maneira como imaginamos revoluções. O RPG, neste caso, é menos jogo e mais fanzine gráfico de resistência. Como escreveu um dos criadores no perfil da editora, Rebel Scum é “um grito travestido de diversão”.

Censura? Sim. Mas Também Uma Oportunidade

Para Heather O’Neill, CEO da 9th Level Games, a remoção de Rebel Scum da DriveThruRPG não foi derrota. Foi reafirmação de princípios. Em nota pública, ela declarou:

“Acreditamos em cada linha daquele prefácio. E não vendemos ideias que precisam pedir desculpas para existir.”

Desde então, o jogo tem ganhado destaque em plataformas mais abertas, como explicamos no Guia de Direitos Autorais, como o Itch.io, onde criadores independentes — especialmente queer, BIPOC e antifascistas — encontram espaço livre de vigilância algorítmica e vigilância ideológica. A própria editora reforça que continuará publicando com liberdade: “Não vamos negociar nossos valores por um espaço de prateleira.”

Essa movimentação reforça o debate sobre a dependência do ecossistema Roll20‑DriveThru. Criadores menores, especialmente no Brasil, muitas vezes dependem dessas plataformas como fonte principal de renda digital — e as opções locais pouco oferecem à altura. Durante anos, a Dungeonist foi uma alternativa nacional, com dezenas de editores brasileiros e centenas de PDFs em circulação. Mas, em 2022, seu encerramento foi anunciado, deixando muitos criadores nacionais a deriva das plataformas gringas.

RPGs São Políticos — E Isso Nunca Foi o Problema

Talvez o que mais irrite em Rebel Scum — e que explique por que ele incomoda tanto — seja sua clareza. O jogo não se esconde atrás de metáforas genéricas nem tenta agradar um espectro político indistinto. Ele aponta estruturas, nomeia prepotentes e provoca reações imediatas de quem se sente atacado ao ver sua ideologia associada ao fascismo — ainda que seja apenas pela repetição passiva de discursos vindos de alguém de cima que votou na última eleição.

No Brasil, onde parte significativa da população abandonou a dúvida em troca de uma fidelidade cega a figuras políticas que tratam vacina, ciência e arte como inimigos ideológicos, a existência de um RPG que declara “este jogo não é para você” soa como agressão. E o que é agressivo, nesse contexto, não é o conteúdo — é a autonomia criativa. A capacidade de dizer não queremos esse tipo de jogador aqui num mercado acostumado a bajular qualquer público em nome da venda, seja do partido ou alinhamento político que for.

A resposta da plataforma DriveThruRPG, travestida de neutralidade, é o reflexo direto dessa lógica. Ao proteger os sensíveis sentimentos de quem replica ideias conspiratórias ou discursos de ódio sem sequer elaborar um pensamento próprio, ela escolhe um lado. E o lado é o mesmo de sempre: o do lucro, da ordem, do “não vamos nos posicionar”.

Talvez por isso Rebel Scum seja tão necessário agora. Porque, num momento em que até imaginar virou ofensa, o RPG ainda pode ser o espaço onde pensar — e resistir — não precisa de autorização.

O post Rebel Scum Removido no DriveThru por ser antifascista foi escrito pelo Artifício RPG, especialista em conteúdo de RPG em Português!

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Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!
“Se quiser dar um soco num nazista espacial, este jogo é pra você.”— Trecho real do prefácio de Rebel Scum, RPG censurado pela Roll20 Na manhã do dia 8 de agosto de 2024, o time da 9th Level Games recebeu um e-mail curto e direto da equipe de parcerias da Roll20. O assunto? Um pedido formal para remover um trecho considerado “politicamente ofensivo” do livro Rebel Scum, lançado em 2021 e até então à venda na DriveThruRPG — a maior plataforma digital de RPG do mundo. O jogo, que propõe aos jogadores encarnar rebeldes enfrentando um império autoritário num futuro…
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Charles Corrêa
Charles Corrêa

Charles Corrêa, também conhecido pelas alcunhas "Overmix" ou "Nandivh", é um apaixonado por RPG e desenvolvimento web. Residente em Porto Alegre/RS, estuda programação desde 2001 e trabalha na área desde 2010.

No mundo do RPG, iniciou sua jornada como jogador em 2014 e, desde 2018, dedica-se a mestrar campanhas envolventes e desafiadoras, especialmente dentro dos gêneros de horror e dark fantasy.

Com experiência em sistemas como D&D 5e, Pathfinder, Cthulhu Dark, Vaesen e, mais recentemente, Savage Worlds, Charles também nutre uma curiosidade especial por Rastros de Cthulhu.

Conhecido entre seus jogadores como um mestre sádico, ele adora desafiar até mesmo os mais experientes combeiros, criando missões e encontros que exigem estratégia e criatividade. Inicialmente utilizando o Roll20 como plataforma, atualmente conduz suas campanhas no Foundry VTT, sempre buscando formas de melhorar a experiência de seus jogadores, aplicando seus conhecimentos em programação para aprimorar a jogabilidade e imersão.

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