Tarifa Crítica: RPGs Encaram Nova era de Preço (Artifício RPG)

Tarifa Crítica: RPGs Encaram Nova era de Preço (Artifício RPG)

Tarifa Crítica: RPGs Encaram Nova era de Preço (Artifício RPG), RPG - Mestre Charles Corrêa
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Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!

As tarifas comerciais impostas pelo governo Trump entraram oficialmente em vigor no dia 2 de abril de 2025, reacendendo tensões com a China e a União Europeia. Em meio ao novo cenário geopolítico, um setor inesperado começa a sentir o baque: o mercado de jogos de mesa, especialmente os RPGs. Livros, miniaturas, dados e acessórios — todos componentes centrais da experiência de jogo — agora enfrentam aumentos severos de preço.

A nova política tarifária impôs 54% de taxação sobre produtos fabricados na China e 20% para os produzidos na União Europeia. A medida surpreendeu tanto editoras quanto consumidores. Do outro lado da equação, empresas americanas que produzem em território europeu ou asiático agora enfrentam margens de lucro drasticamente reduzidas.

“A caixa de Voidrunner’s Codex já foi paga pelo cliente. Mas o envio vai chegar com tarifas que não estavam no orçamento”, relatou um dos editores da EN Publishing no fórum da EN World. “Estamos revendo toda a estratégia de distribuição. E isso, inevitavelmente, vai afetar os preços finais.”

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Remessa dos Livros do Editor do EnWorld

Uma Conta que Não Fecha

O principal impacto recai sobre os produtores de médio porte e projetos viabilizados por financiamento coletivo, que normalmente operam com margens pequenas e produções externas. Impressoras americanas não têm capacidade nem infraestrutura para absorver toda a demanda da indústria — e mesmo aquelas que têm estrutura dependem de papel canadense, colas europeias e tintas asiáticas. Tudo agora sob tarifa.

Para projetos menores ou independentes, o impacto é ainda mais brutal. “Tenho um livro pronto, mas devo adiar o lançamento”, declarou um pequeno editor estadunidense. “Lancei um título na véspera da pandemia e foi péssimo. Este momento lembra aquilo: muita incerteza e medo de encalhe.”

Austrália: o Prenúncio do Colapso?

Enquanto os EUA enfrentam barreiras internas, a Austrália surge como um exemplo paradoxal. Segundo levantamento do Compare the Market (para acessar o link, é necessário VPN, pois IPs do Brasil estão bloqueados), divulgado pela Geek Native, 16% dos jogadores australianos gastaram mais de US$ 10.000 em jogos de mesa — quase o dobro do que se vê nos Estados Unidos. Esse número escancara uma realidade: o hobby já era caro. Com tarifas adicionais e inflação global, a tendência é que o mercado se polarize entre consumidores de alto poder aquisitivo e grupos mais vulneráveis que migrarão para alternativas digitais.

“As pessoas não vão parar de jogar”, afirma o jornalista Andrew Girdwood. “Mas talvez parem de comprar. Ou vão gastar só em PDFs, que por enquanto escapam das tarifas.”

Impressões à Beira do Abismo

A DriveThruRPG, maior plataforma de impressão sob demanda do mundo, já aumentou seus preços em até 50% nos Estados Unidos. A justificativa é clara: o custo das matérias-primas e a pressão tarifária nos fornecedores.

Essa realidade se estende a todos os segmentos. Miniaturas impressas em 3D, colas especiais, tintas de alta precisão, caixas personalizadas — todos esses itens são importados e agora estão sujeitos a tarifas.

“A resposta natural do mercado será subir preços”, explica um executivo de uma distribuidora. “Mas até onde o cliente aguenta? Estamos falando de um produto de nicho que depende da paixão. E a paixão também tem limite de crédito.”

Diferenças Geracionais e os Jogos Mais Populares

Como acontece com muitos hobbies, a idade exerce um papel significativo nas tendências dos jogos de mesa. A Geração Z parece liderar o movimento nos Estados Unidos e no Canadá, com 60% dos americanos e 50,4% dos canadenses desse grupo etário jogando ou colecionando miniaturas de mesa. Já na Austrália, os millennials são os mais envolvidos, com 24,5% participando do hobby. Isso pode indicar uma retomada do interesse por jogos de mesa entre as gerações mais jovens ou, talvez, uma diferença na forma como o hobby evoluiu em cada país.

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Gráfico comparando a compra de RPG nos EUA, Canadá e Austrália

A pesquisa também apresenta um panorama dos jogos de mesa mais populares nos três países. Eis o ranking dos dez mais citados:

  • Dungeons & Dragons – 32,01%
  • Kings of War – 15,42%
  • Star Wars X-Wing – 14,27%
  • BattleTech – 12,47%
  • Cyberpunk – 12,08%
  • Star Wars Edge of the Empire / Star Wars Shatterpoint – 11,83%
  • Legions Imperialis / Warhammer 40.000 – 11,18%
  • Marvel Crisis Protocol – 10,41%
  • Black Powder – 10,03%
  • Call of Cthulhu – 9,90%

É interessante observar a mistura de RPGs clássicos, como Dungeons & Dragons e Call of Cthulhu, ao lado de wargames como Warhammer 40.000 e Star Wars X-Wing. A presença de jogos mais recentes, como Marvel Crisis Protocol, sugere que o hobby continua a evoluir e atrair novos públicos.

Curiosamente, Kings of War superou Warhammer 40K no ranking, e levanta-se a dúvida sobre por que este último foi agrupado com Legions Imperialis.

Kickstarter, Logística e a Incerteza do frete

Editoras que haviam finalizado campanhas de financiamento coletivo, mas ainda não tinham enviado os produtos, agora se veem diante de um impasse. Muitos contratos de frete foram calculados com base em um cenário pré-tarifas, o que compromete o cumprimento das promessas feitas aos apoiadores. A própria EN Publishing teve quatro campanhas impactadas, entre elas Voidrunner’s Codex e Gate Pass Gazette Annual 2024. Em todos os casos, os produtos já haviam sido pagos e estavam a caminho dos Estados Unidos, onde incorrerão em tarifas adicionais à chegada.

As alternativas em debate incluem:

  • Absorver o custo (o que se mostra financeiramente inviável);
  • Reimpressão nos EUA (limitada por infraestrutura e também afetada por insumos tarifados);
  • Postergar envios ou dividir hubs de distribuição (logisticamente caro e ineficiente);
  • Migrar para vendas digitais (que escapam das tarifas, mas enfrentam menor margem e riscos de pirataria).

E o Brasil Nisso Tudo?

Embora o Brasil não tenha sido alvo primário das tarifas impostas por Trump, inclusive, de apenas 10%, o país sente o impacto por efeito dominó, principalmente em três frentes:

  1. Importação direta: Jogadores brasileiros que compram livros em plataformas como Amazon, eBay ou DriveThruRPG já enfrentam aumentos. Com o dólar em alta, o hobby torna-se ainda mais inacessível para grande parte da população.
  1. Editoras locais com contratos internacionais: Editoras brasileiras que traduzem e publicam RPGs estrangeiros — como Tria, Buró, Jambô e New Order — dependem de insumos e acordos atrelados à produção externa. Mesmo que a impressão ocorra no Brasil, os preços de licenciamento e a concorrência global se tornam mais difíceis de administrar.
  1. Distribuição regionalizada: Como os EUA tradicionalmente concentram a logística do setor, o aumento das tarifas pode desestimular o envio global a partir do solo americano. Isso pode forçar empresas a priorizar vendas internas ou a estabelecer hubs de distribuição na Europa, Reino Unido ou Austrália, dificultando ainda mais o acesso brasileiro, que já depende de importadoras e fretes internacionais.

Alternativas Possíveis e Sinais do Futuro

Diante desse cenário, cresce no Brasil o interesse por jogos digitais, gratuitos e nacionalizados.

A mesma pesquisa da Geek Native também reforça a tendência: países fora do eixo EUA-Europa, como a Austrália, já mostram que o gasto dos jogadores pode ser significativo — e, portanto, vulnerável a oscilações do mercado global. Os 16% de australianos que já gastaram mais de US$ 10.000 com RPGs sinalizam não apenas paixão, mas a transformação do hobby em bem de luxo.

Um Chamado à Reinvenção

O momento exige uma reavaliação coletiva sobre os caminhos do RPG. Editoras buscam novos modelos de produção; criadores independentes apostam em financiamento direto e vendas digitais; jogadores exploram com mais afinco o cenário nacional e o conteúdo feito por fãs. Tudo isso enquanto acompanham com cautela o aumento nos preços.

Se o RPG sobreviver ao ataque tarifário, será por conta de sua capacidade de adaptação — uma característica que sempre definiu o hobby. E talvez, especialmente para países como o Brasil, esse seja o empurrão necessário para fortalecer os ecossistemas locais e reduzir a dependência externa.

Pra quem deseja ver um vídeo mais abrangente, o canal ARDDHU // RPG fez um vídeo completo sobre o tema:

O post Tarifa Crítica: RPGs Encaram Nova era de Preço foi escrito pelo Artifício RPG, especialista em conteúdo de RPG em Português!

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Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!
As novas tarifas impostas pelos EUA afetam diretamente o mercado de RPG de mesa. Entenda o impacto em editoras, consumidores e a reação do mercado global.
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Charles Corrêa
Charles Corrêa

Charles Corrêa, também conhecido pelas alcunhas "Overmix" ou "Nandivh", é um apaixonado por RPG e desenvolvimento web. Residente em Porto Alegre/RS, estuda programação desde 2001 e trabalha na área desde 2010.

No mundo do RPG, iniciou sua jornada como jogador em 2014 e, desde 2018, dedica-se a mestrar campanhas envolventes e desafiadoras, especialmente dentro dos gêneros de horror e dark fantasy.

Com experiência em sistemas como D&D 5e, Pathfinder, Cthulhu Dark, Vaesen e, mais recentemente, Savage Worlds, Charles também nutre uma curiosidade especial por Rastros de Cthulhu.

Conhecido entre seus jogadores como um mestre sádico, ele adora desafiar até mesmo os mais experientes combeiros, criando missões e encontros que exigem estratégia e criatividade. Inicialmente utilizando o Roll20 como plataforma, atualmente conduz suas campanhas no Foundry VTT, sempre buscando formas de melhorar a experiência de seus jogadores, aplicando seus conhecimentos em programação para aprimorar a jogabilidade e imersão.

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