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Contos de Nindäle – A História preferida de Vitória

Contos de Nindäle – A História preferida de Vitória

Contos de Nindäle – A História preferida de Vitória, RPG - Mestre Charles Corrêa
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A História Preferida de Vitória

— Papai, papai, conta aquela história para mim por favor! — a princesa dizia enquanto seu pai terminava de colocá-la para dormir, com três cobertas a protegendo do inverno de Hassine.

— Mas de novo, filha? — disse o Rei com um meio sorriso.

— Siiiiim — ela respondeu empolgada, arrumando suas madeixas loiras e evidenciando seus olhos verdes recheados de sono.

— Está bem, está bem — ele completou, indo até a estante com dezenas de livro do quarto cheio de tapeçarias e retornando com o preferido dela: “Contos de ninar, por Nyssa Lightwind”. Retornou ao lado da cama, sentou-se sob a o banco de madeira clara com uma almofada escarlate com formas douradas em seu topo.

— Ebaaaaaa — ela disse, mexendo-se agitada sob os cobertores. Então, o Rei começou a contar a história preferida de sua filha e princesa, Vitória Goldenlight.

Era uma vez, nas profundezas do pântano de Fardan, uma menina chamada Amanda. Ela tinha a pele morena, cabelos negros como a escuridão e olhos de jabuticaba que eram tão doces quanto a seu sorriso. Ela estava sempre sorrindo, diferente de todos aqueles que viviam no pântano com ela.

O lugar era cheio de árvores tortuosas, de lama e de uma chuva que nunca acabava. Talvez por isso

todo mundo ali fosse tão ranzinza. Mas ela não. Amanda adorava tudo aquilo. Ela gostava de se sujar na lama, de conhecer cada uma das várias plantas do lugar e de se esbaldar de brincar de escorregar nos corredores de musgos.

Porém, um dia tudo mudou.

Quando Amanda ainda era bem pequena, ela precisou abandonar o seu vilarejo. Os seus pais não explicaram muito bem o porque. Mas, enquanto ela dormia, eles a pegaram no colo e eles saíram correndo para o meio do pântano, longe das casas e pontes de madeira onde ela passara toda a sua vida.

Ela chorava, mesmo sem entender. Seus pais a cobriram em um manto conforme corriam, então ela não viu nada. Porém, na distância ela ouvia sons como “GRRWWAAH, WWWRAAAA” — o Rei caprichou nesses sons, ao que a princesa gargalhou.

E assim ela passou vários dias na floresta tortuosa com seus pais. Eles pareciam tristes, então ela tentava animá-los com piadas, brincadeiras e mostrando para eles tudo que ela encontrava. Mas as vezes isso era perigoso! Seu pai as vezes batia na mão dela e dizia “Não toque nisso, Amanda! Isso pode te matar”.

Ah sim, a poderosa e perigosa morte. Amanda conhecia bem aquilo. Desde bem cedo ela foi ensinada que não devia confiar em estranhos — “viu, mocinha, não confiar em estranhos”, o rei disse

cutucando sua filha — nem sair por aí sozinha e muito menos tocar ou comer alguma coisa que ela não conhecia.

E assim Amanda começou a ficar triste. Eram apenas ela e seus pais pelo mundo. Todos seus amigos do vilarejo tinham sido deixados para trás e seu pai não deixava ela brincar nem fazer nada.

Até o dia em que Amanda encontrou um objeto cheio de luz no meio das folhas caídas das árvores. Ela sabia que não podia tocar nele, então ela puxou a roupa de folhas de seu pai e apontou. Ele e sua mãe se entreolharam e foram ver o que era.

Colocando as folhas para os lados, eles viram ali algo o fizeram sorrir. Amanda ficou muito feliz com isso. Ela deu uma risada que a tempos não dava, sabendo que tinha feito algo bom. Sua mãe a beijou na testa e de olhos marejados disse “muito bem filha”.

E então começou a verdadeira aventura! Amanda e seus pais partiram em busca da Bruxa do Pântano, uma poderosa e malvada bruxa, mas que poderia ajudá-los!

A Bruxa adorava coisas brilhantes e ela com certeza iria ajudar eles se eles entregassem aquela joia para ela. Porém, tudo que brilhava era perigoso, Amanda sabia disso. Por isso envolveram a joia brilhante em vários panos e assim passaram dias e dias e dias andando bem devagar no meio daquelas várias árvores.

Amanda tinha muito medo de estar ali. Vários monstros passavam por eles enquanto eles caminhavam. Aranhas gigantes, cachorros com duas cabeças e afiados dentes, cobras de tamanhos de árvores e até espíritos.

Mas a mãe de Amanda era uma xamã. Uma poderosa arcanista do pântano. E ela como poucos sabia disfarçar a presença deles ali. Ela estava sempre coletando folhas, criando gosmas que eles passavam em seu próprio corpo e às vezes queimando as folhas para fazer fumaças.

Amanda adorava tudo aquilo, mesmo sem entender como funcionava. Mas ela sabia que tudo aquilo era muito perigoso. Então ela abraçava sua mãe todas as manhãs e dizia “obrigado mamãe por nos proteger, eu te amo”.

E assim eles caminharam por dias até encontrar a poderosa bruxa! Eles viram a casa dela de madeira no meio do pântano, com luzes verdes bruxuleantes, corvos pousados no telhado, abóboras por todo o lado e um espantalho na frente do jardim dela. O lugar tinha um cheiro estranho que incomodava muito a Amanda. E ela tinha medo de estar ali.

Ela puxou a roupa do seu pai e disse “papai, eu tô com medo”, ao que ele respondeu “fique tranquila filha, vai dar tudo certo”. Seus pais se entreolharam, mas com um olhar diferente. Eles pareciam preocupados. Era o mesmo olhar que eles tinham quando nenhum dos dois achava comida e a barriga de Amanda ficava doendo quando ela ia dormir.

Mas mesmo assim eles foram em direção à casa da Bruxa e a Amanda os seguiu. Quando ela passou pelo espantalho, o rosto dele foi virando e encarando ela diretamente nos olhos. Ela se agarrou nas pernas da mãe e continuou andando, com medo, sabendo que o espantalho a encarava.

Os corvos começaram a cantar e a porta se abriu… sozinha. FUPAH! A madeira da porta bateu contra a madeira da casa.

(A princesa agora só estava com os olhos de fora, encarando o Rei, com medo do que ela já sabia que ia acontecer).

“VENHAM VENHAM, MEUS QUERIDOS! HIHIHIHIHIHI”, uma voz estridente e feminina gritou de dentro da casa, por entre risadas estranhas.

“Nós trazemos uma oferenda!”, o pai de Amanda bradou, “mas queremos algo em troca”.

“AHHH SIM HIHIHI VOCÊS SEMPRE QUEREM. Venham, eu vou ajudar vocês”

Os pais de Amanda se olharam com aquela mesma cara e ela estava com medo, muito medo. Ela tremia de medo. A única vez que ela tinha se sentido assim foi quando ela viu uma formiga tão grande quanto ela logo na sua frente e o líder do vilarejo a matou, deixando Amanda inteira de uma gosma verde que fazia sua pele doer. Eles disseram para ela que era um sangue ácido e que ela nunca mais poderia ir sozinha no pântano. Ela precisou passar vários e vários dias deitada na cama cheia de faixas.

E agora ela sentia aquele mesmo medo. Parecia muito, muito mesmo, que tinha alguma coisa errada e que aquilo não ia dar certo, mesmo com seu pai falando que ia ficar tudo bem. Amanda tremia enquanto a voz da bruxa ecoava pelo lugar.

Atravessaram o lugar, abriram a porta e viram como era a casa. Era cheia de madeira velha e rangendo. Havia estantes quebradas cheias de livros e coisas estranhas. Vidros por todo o lugar guardavam coisas bizarras como olhos, asas, insetos e até orelhas! Uma fumaça pairava pela casa, vinda do caldeirão, onde uma curiosa mistura verde borbulhava e uma senhora corcunda com roupa preta e um chapéu pontudo mexia com uma colher grande de madeira.

“Então vocês vieram pedir ajuda da bruxa, HIHIHI”, ela disse, virando-se para eles e parando de mexer no caldeirão. “Mas é claro que a bruxa vai ajudar vocês, ela sempre ajuda não é, criancinha?”

Porém, quando ela disse “criancinha”, Amanda ouviu sua voz grave e profunda como se tivesse saindo diretamente de sua mente. Ela se agarrou às pernas do pai e disse “PAAAI, EU TO COM MEDO”.

“Pare de perturbar a minha filha!”

“Perturbar? Não não não, eu vou ajudar vocês meus queridos fugitivos perdidinhos”.

“Então vamos logo com isso”, a mãe de Amanda disse, mostrando a joia brilhante para ela. “Nós te damos esta joia e você nos teletransporta para Hassine”.

“Uhhhh eles trouxeram coisas brilhantes para mim. Eu adoro coisas brilhantes”. A bruxa tirou de dentro de seu manto a sua mão larga e verde com unhas tão compridas quando o braço de Amanda. E então o objeto brilhante voou pelo quarto, indo lentamente até as mãos daquela criatura abominável.

(A princesa agora se agarrava à perna do pai, ansiosa pelo fim da história).

“Hmmmm uma joia de poder, que achado incrível hein menininha?? HIHIHI mas vocês não querem comer nem uma sopinha de abóbora antes? Está quentinha meus queridos!”

“Não, apenas nos tire daqui. Nós já te demos a joia”,

seu pai falou, furioso. Aquela era a voz de raiva do papai. A voz que ele só usava quando ele ficava dominado pela Coisa das Sombras, como sua mãe chamava. Era uma coisa que fazia com que ele não pensasse e saísse batendo em todo mundo e quebrando tudo. Amanda tinha medo da Coisa das Sombras, então ela se agarrou à perna de sua mãe, saindo de perto de seu pai.

“Uma joia de poder por um teletransporte, HIHIHI, parece um acordo justo, família”.

Então a bruxa cantou palavras horrendas e estridentes, com risadas e luzes negras e verdes saindo de todo o lugar.

“ABRACABUM, FALACASSIN, GARABADHUM, ÁRA HASSINE”

Uma luz verde envolveu os três e seus corpos começaram a levitar e a ficar totalmente iluminados e Amanda sentiu um frio na barriga e uma tremenda falta de ar que a deixou com muito medo. Ela se agarrou aos pais, que estavam tão assustados quanto ela. E então, pouco antes de eles sumirem dali, a bruxa gritou com a voz sinistra e grave dela:

(a princesa se escondeu embaixo das cobertas)

“VOCÊS NÃO PEDIRAM QUE TODOS FICASSEM VIVOS! HIHIHIHI”

Amanda sentiu seu peito ficar vazio. Repentinamente, ela ouviu pássaros cantando na distância e um calor estranho tocando sua pele. Seus olhos se ajustavam ao mundo ao seu redor enquanto ela percebia um cheiro único, doce e leve, trazidos por uma brisa leve que vinha de algum lugar.

Ela ouvia alguém chorando e aos poucos percebeu que era a sua mãe. Eles estavam agora em uma floresta verde, cheia de animais por todos os lados e uma esfera amarela no céu azul iluminava tudo.

“Mamãe, deu certo!”, ela disse indo em direção à sua mãe. Foi quando Amanda paralisou. Seus olhos lacrimejaram e ela começou a chorar como nunca tinha chorado antes. Parecia que ela ia perder toda a água de seu corpo enquanto ela ficava ali, abraçada pela sua mãe, vendo o que tinha acontecido.

(A princesa então ficou só com o rosto de fora das cobertas esperando o final da história)

A bruxa tinha levado eles para Hassine, mas em troca, tinha levado também a vida do pai de Amanda.

O Rei fechou o livro e olhou para a sua filha, que estava de olhos arregalados, os mesmos que ela ficava sempre que ele contava essa história. Ou seja, todas as noites, já há dois anos consecutivos.

— Eu amo essa história! — ela disse gargalhando ainda envolta em suas cobertas.

— Eu sei minha princesa — ele respondeu, alisando os cabelos dela.

— Será que a Amanda está bem, pai?

— É só uma história filha — ele respondeu, ouvindo aquela pergunta pela primeira vez.

— Eu sei… mas não tem final feliz. As outras tem. Ela está bem?

— Sim filha, ela ficou bem — ele disse, inventando um final — depois que tudo aconteceu, elas foram ajudadas pelo reino de Hassine. Eles encontraram casa para elas, um lugar lindo cheio de flores e boas comidas. E elas nunca mais tiveram que se preocupar com os monstros de Fardan.

— Mas ela perdeu o papai dela, né?

— Sim… por isso jamais confie em bruxas, monstros e estranhos, fiha.

— Jamais, papai — ela disse, bocejando e puxando a mão dele para se deitar em cima da palma da mão do Rei, fechando os olhos.

E assim, a princesa Vitória dormiu, ao lado de seu pai. Longe das monstruosidades de Fardan. Protegida do frio do inverno de Nindäle que passava por Hassine.

E o Rei, por mais um dia, ficou grato de estar vivo e de ter sua filha protegida, longe dos perigos do mundo.

Sobre Fardan e Nindäle

Fardan é um dos países de Nindäle, que você pode conhecer participando de nosso Financiamento Coletivo.

Se você quer conhecer os Materiais de Nindäle, fique à vontade! Há materiais livres para você tanto na página de materiais, quanto nas novidades da página do Catarse.

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