É Bom Trair no RPG. É Maravilhoso Ser infiel. (Artifício RPG)

É Bom Trair no RPG. É Maravilhoso Ser infiel. (Artifício RPG)

Mestre Charles Corrêa - https://rpg.charlescorrea.com.br
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Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!

Por que trair o livro é essencial no RPG? O melhor Mestre é infiel.

Sim, meu caro leitor de dados viciados. Traia sem medo. Seja infiel na cara dura. Porque o RPG — esse ritual coletivo de contar histórias — não sobrevive na clausura da fidelidade cega. RPG bom é RPG adúltero.

Muita gente entra no RPG com a cabeça de que “seguir o livro” é virtude, que “não mudar nada” é pureza. Ledo engano. O livro de regras não é uma sentença. É um convite. Um empurrão inicial. Ele é o ponto de partida — jamais o cativeiro.

Ser Mestre de Jogo, ser narrador, ser criador de mundos não é ser escrivão de manual. É ser tradutor de experiências. E todo tradutor que se preza é, antes de tudo, um traidor glorioso. A cada sessão, você é desafiado a reescrever o mundo que pegou emprestado. O monstro do bestiário vira lenda local. O item mágico vira herança de família. O mapa oficial vira o desenho torto feito num guardanapo durante o boteco da vida real.

E é aqui que mora a beleza dessa infidelidade criativa: no jogo das negociações impossíveis.

Porque cada mesa é um dialeto. Cada grupo tem seus costumes. Suas piadas internas. Seus tabus. Suas regras invisíveis. E o Mestre? Ah, o Mestre é esse equilibrista nervoso, tentando traduzir um dragão que fala o idioma da fantasia para jogadores que só respondem em memes do TikTok.

A pergunta eterna se repete: como fazer o jejum sagrado de um culto fictício ser entendido por um grupo de aventureiros que só pensam em loot? Como transportar o sotaque de um ancião élfico sem parecer o Seu Madruga lendo poesia? Como explicar o terror cósmico de uma criatura lovecraftiana para quem viu o monstro e já gritou “eu vou dar porrada”?

Não existe resposta fácil. Nem deve existir.

Todo RPG vive nesse limbo angustiante — entre o respeito e o rompimento, entre a letra e o improviso, entre o texto original e a cultura viva da mesa.

Porque o RPG não é só um jogo de dados. É um jogo de adaptação. É uma fraude consentida. Uma simulação descarada de um mundo que nunca existiu. E como dizia Umberto Eco: “Traduzir é trair.” Eu diria mais: Narrar é trair — e amar cada segundo dessa traição.

Quem tenta ser absolutamente fiel ao livro, na prática, vira escravo do silêncio. Porque um mundo de RPG que não respira a cultura da sua mesa está morto. É um texto bonito num PDF, mas sem alma. Sem suor. Sem gargalhada. Sem raiva. Sem improviso. Sem erro.

RPG bom é como tradução literária: ou é fiel e sem graça, ou é infiel e inesquecível.

Então, da próxima vez que abrir o Livro do Jogador, não o trate como Bíblia. Trate como provocação. Leia como quem espia uma carta de amor antiga — e depois rasgue e escreva a sua.

Adapte. Corte. Mude nomes. Invente sotaques. Roube ideias. Infiltre referências do seu mundo. Traia tudo que for preciso — contanto que você salve o que importa: a magia do jogo vivo, respirando na mesa.

RPG bom é esse. É o RPG bandido. É o RPG que não tem medo de ser infiel.

E você? Vai ser fiel a quê? Ao livro… ou à história que vocês vão lembrar pro resto da vida?

O post É Bom Trair no RPG. É Maravilhoso Ser infiel. foi escrito pelo Artifício RPG, especialista em conteúdo de RPG em Português!

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No RPG, ser fiel demais ao livro é matar a mesa de tédio. O bom Mestre de Jogo sabe que trair o sistema é necessário para criar histórias vivas, únicas e inesquecíveis. O livro é um mapa — mas a aventura é feita de improviso.
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Charles Corrêa

Charles Corrêa, também conhecido pelas alcunhas "Overmix" ou "Nandivh", é um apaixonado por RPG e desenvolvimento web. Residente em Porto Alegre/RS, estuda programação desde 2001 e trabalha na área desde 2010.

No mundo do RPG, iniciou sua jornada como jogador em 2014 e, desde 2018, dedica-se a mestrar campanhas envolventes e desafiadoras, especialmente dentro dos gêneros de horror e dark fantasy.

Com experiência em sistemas como D&D 5e, Pathfinder, Cthulhu Dark, Vaesen e, mais recentemente, Savage Worlds, Charles também nutre uma curiosidade especial por Rastros de Cthulhu.

Conhecido entre seus jogadores como um mestre sádico, ele adora desafiar até mesmo os mais experientes combeiros, criando missões e encontros que exigem estratégia e criatividade. Inicialmente utilizando o Roll20 como plataforma, atualmente conduz suas campanhas no Foundry VTT, sempre buscando formas de melhorar a experiência de seus jogadores, aplicando seus conhecimentos em programação para aprimorar a jogabilidade e imersão.

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