Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!
Não é sobre brinquedos. Nem sobre jogos. E com certeza não é mais sobre aventura. Os relatórios financeiros do primeiro trimestre de 2025 da Hasbro, apresentados em conferência com investidores no último dia 24 de abril, deixaram isso claro como o saldo bancário de uma holding em paraíso fiscal: Dungeons & Dragons já não vive mais no reino dos hobbits e dos bardos falantes — ele opera no reino dos dividendos, dos gráficos de EBITDA e das metas trimestrais.
Enquanto toda a cadeia global de brinquedos sofre sob o peso das tarifas sino-americanas, da instabilidade logística e do aumento dos custos de produção, a Wizards of the Coast — subsidiária da Hasbro e atual guardiã da marca D&D — aparece como a exceção imune, a locomotiva que empurra a empresa enquanto suas outras engrenagens patinam no barro.
A performance registrada no relatório oficial da companhia é tão acintosa que beira o surreal: crescimento de 46% nas receitas da divisão Wizards and Digital Gaming, com margem operacional de 49,8%. Em uma indústria onde margens de dois dígitos já são motivo para festa com champanhe, quase metade do faturamento virar lucro líquido é o tipo de número que faz até o mais cínico dos investidores erguer uma sobrancelha.
E o mais impactante: enquanto empresas como CMON anunciam cortes e reestruturações por conta dos aumentos tarifários de até 145% sobre produtos vindos da China, a Wizards declara, com a frieza de quem já está em outra liga, que o impacto para seus produtos é “mínimo”, já que a maior parte da produção de D&D acontece nos Estados Unidos e no Japão.
O que está em jogo aqui não é apenas a performance de um trimestre. É a transformação definitiva de um RPG em ativo estratégico. Um motor de acionistas. Um polo de capital que, em 2025, gera mais previsibilidade que Transformers, mais margem que Nerf e mais imunidade que Peppa Pig.
Não é exagero, nem metáfora editorial: os slides da apresentação aos acionistas — publicados oficialmente aqui — deixam explícito que Dungeons & Dragons agora faz parte das iniciativas de alto retorno e baixo risco da companhia. Junto a Magic: The Gathering, é um dos pilares do novo modelo “asset-light”, “digitally scalable” e “IP-based” da Hasbro.
Então, sim. Em 2025, jogar RPG talvez seja o detalhe menos importante da equação.
Porque a Wizards aprendeu a jogar outro jogo — o do mercado. E, até agora, está vencendo. Com iniciativa alta. E vantagem de terreno.
Wizards of the Coast é o novo petróleo da Hasbro: o dia em que jogar RPG virou detalhe irrelevante
A primeira coisa que você precisa entender sobre a Wizards em 2025 é que ela não está mais vendendo RPG. Ela está vendendo a ideia de RPG. E há uma diferença brutal entre essas duas coisas. Porque a ideia — essa forma bruta de capital simbólico — não precisa de papel, não precisa de dados, não precisa nem de grupo. Ela só precisa de desejo.
E a Hasbro sabe disso. Tanto que deixou a Wizards solta. Ou melhor: livre para dominar.
Num trimestre em que os brinquedos da companhia caíram 4% em receita — uma queda que parece modesta, mas que grita nos bastidores quando se trata de uma empresa que depende de sazonalidade e datas comemorativas — a Wizards cresceu 46%. QUARENTA E SEIS POR CENTO. EM TRÊS MESES. Isso não é só sucesso. Isso é predomínio. E o mundo dos negócios entende essa linguagem: quem cresce rápido demais, logo vira centro de gravidade. E foi isso que aconteceu.
O RPG, outrora tratado como “produto complementar” na esteira do portfólio da Hasbro, agora é carro-chefe. E não por altruísmo cultural ou amor ao nerdcore. Mas porque ele dá lucro. Lucro escandaloso.
A margem operacional da divisão de Wizards foi de 49,8% no primeiro trimestre de 2025. Isso quer dizer que, para cada dólar que entrou, quase 50 centavos foram direto para o bolso da Hasbro, sem grandes perdas no caminho. Compare isso com a média da indústria de brinquedos — algo entre 10% e 20% — e você entenderá o abismo. Enquanto a maioria das divisões da empresa luta por sobrevivência contra tarifas, quedas de demanda e gargalos logísticos, a Wizards avança, silenciosa, brutal, triunfante.
Mas por que isso importa para você, que joga RPG? Porque, em algum ponto entre a 3ª edição e a 5.5, a Wizards parou de pensar o jogo como experiência de mesa — e passou a tratá-lo como ativo estratégico. E isso muda tudo.
A cultura como mercadoria e o dado como fetiche
RPG virou vinil. Virou item de colecionador. Virou símbolo de identidade para uma geração que não lê Tolkien mas compra edição especial com capa dura metalizada. A Wizards entendeu que o que se vende não é o sistema. É o status. Não é o lore. É a ideia de pertencimento. Não é a história. É o NFT emocional que você compra ao dizer “eu sou um jogador de D&D”.
E tudo isso pode parecer exagero poético, como muitos falam que exagero em meus textos — sou filhote de Jabor e Umberto Eco — até que você lê os documentos oficiais da empresa. No relatório de gestão do primeiro trimestre, a Hasbro afirma, sem floreios: a Wizards é responsável pelo crescimento estratégico mais sólido da companhia, com investimentos centrados nas marcas Magic: The Gathering e Dungeons & Dragons, e operações cada vez mais domesticadas para fugir das pressões tarifárias.
A palavra mágica é “domesticadas”.
A Wizards fabrica seus produtos principalmente nos Estados Unidos: impressões na Carolina do Norte e Texas, e parte do fornecimento vindo de Kyoto, no Japão. Nada de China. Nada de Vietnã. Nada de se sujeitar a uma tarifa de 145%, como ocorre com brinquedos e jogos importados da Ásia para os Estados Unidos. Isso não é acaso. É estratégia. O jogo é feito para ser intocável pelas crises globais. E quando se é intocável pela crise, você vira a âncora da estabilidade.
Tanto que, mesmo com o fantasma de novas tarifas pairando sobre a indústria, a Wizards foi uma das poucas divisões cuja projeção de receita para o ano foi aumentada. Enquanto a maioria da empresa congelava projeções ou operava no escuro, a Wizards já via os dados com clareza cristalina: projeção de crescimento de dois dígitos até o final do ano, com margem estimada na casa dos 40%.
E isso tudo sem mencionar o digital.
O dado foi para a nuvem: jogos mobile, digitalização e licenciamento
Magic: The Gathering continua sendo a máquina de dinheiro primária. Mas agora ela está plugada na tomada da internet. Magic Arena, o jogo digital da franquia, é um dos maiores responsáveis por essa margem absurda. Menor custo, maior alcance. Nenhum manual físico para imprimir, nenhum dado para embalar, nenhum frete para gerenciar. Apenas pixels, cartas virtuais e microtransações bem calculadas.
E não é só isso. Monopoly Go! — o jogo mobile que parecia uma aposta irrelevante — agora responde por US$ 39 milhões em receita no trimestre. E o mais curioso: ele é parte do braço Wizards, mesmo sem ser RPG. Porque a Wizards virou isso: a fábrica de lucros premium da Hasbro. O nome virou selo. E o selo virou lucro.
A empresa anunciou, inclusive, parcerias novas para esse tipo de produto. A próxima collab de Monopoly Go! será com Star Wars, começando agora em maio. Licenciamento de IPs virou parte da estrutura. Uma linha direta com a Disney. O tipo de proximidade que, se você olhar bem, só grandes empresas de mídia conseguem.
A Wizards virou isso: uma empresa de mídia. Ela é mais próxima da Netflix do que da Jambô. Mais próxima da Epic Games do que da Devir. E isso deve acender um alerta vermelho para qualquer um que ache que D&D ainda é uma “aventura de amigos na garagem. Não é. É uma propriedade intelectual de bilhões de dólares, operada como ativo financeiro, explorada como franquia transmídia, e protegida por modelos produtivos que garantem autonomia frente a crises internacionais.
E, sim, D&D ainda é impresso. Mas isso é um detalhe, uma parte do negócio. Não o cerne. Porque mesmo os livros físicos estão sendo tratados como produtos de luxo. Capas alternativas. Edições de colecionador. Estoques limitados. PDFs liberados só quando a estratégia de engajamento exige.
Ah, e a questão do preço? Bem… prepare-se.
A caixa de entrada do hobby vai subir de preço. E ninguém está avisando.
A Wizards admite, com todas as letras, que alguns produtos — como o novo Starter Set “Heroes of the Borderlands” — podem ter preços acima da média. Mas evita dizer quanto. A explicação oficial é a tarifa, claro. Produtos em caixa, com vários componentes físicos, ainda dependem de produção parcial na Ásia. Mas não se engane: isso é parte do jogo. Uma subida estratégica, camuflada por justificativas logísticas.
A empresa já deixou claro que vai priorizar os “price points críticos” — US$ 9,99 e US$ 19,99 — para manter a competitividade. Mas são preços pensados para linhas de entrada de brinquedos e jogos simples. O RPG, como nicho de colecionador, não está incluído nessa promessa. E, se você olhar o histórico recente, verá o padrão: livros de D&D em capa alternativa custam mais. Caixas especiais custam mais. PDFs não estão mais vindo no combo impresso. E a venda por nostalgia — como no lançamento do Livro do Jogador 2024 — mostra que a Wizards agora trata o passado como IP monetizável.
Em outras palavras: o futuro do RPG, como negócio, não é jogar. É comprar.
A visão de longo prazo: cultura de massa, monetização constante e o fim da inocência
Chris Cocks, o CEO da Hasbro, afirmou que a empresa está “jogando para vencer”. Mas a pergunta é: vencer o quê?
Se o objetivo era transformar uma divisão nerd em uma central de lucro, eles já venceram. Se o plano era escapar das garras da geopolítica e virar uma empresa à prova de tarifas, também. Mas o custo disso é algo que ainda não se discutiu: o afastamento entre produto e público. Entre jogo e jogador. Porque, em algum ponto, o RPG virou performance. Um palco onde a aventura é vendida em trailers e unboxings, mas raramente vivida.
O dado é menos jogado. O livro abre pouco. Mas o lucro cresce. E isso, para uma corporação, é tudo o que importa.
Se Dungeons & Dragons ainda é o maior RPG do mundo, não é porque é o melhor. É porque virou sinônimo de pertencimento geek. E como qualquer símbolo, não precisa mais provar seu valor. Ele se sustenta na repetição. E, mais ainda, na exclusividade.
Enquanto isso, o restante do mercado sangra.
Editoras menores lutam para manter preços. Impressoras na China fecham. Fretes disparam. Mas a Wizards, com seus livros made in USA, segue sorrindo. O RPG virou ouro. Mas só para quem sabe como minerar.
E, pelo jeito, a Wizards aprendeu a explorar essa mina como ninguém.
O império Hasbro por trás da cortina de dados: margens, tarifas e a engenharia do lucro em 2025
O que acontece quando o maior conglomerado de jogos e brinquedos do Ocidente transforma seu RPG em carro-chefe? O mercado treme. Mas o que acontece quando esse mesmo conglomerado decide operar como banco, empresa de tecnologia, e licenciante de mídia simultaneamente? Aí ele vira Hasbro.
O relatório do primeiro trimestre de 2025 é uma aula — cruel, meticulosa, estratégica — sobre como se sobrevive a um mundo em crise quando se tem um portfólio recheado de IPs e um mapa de produção desenhado como jogo de guerra. E para entender o que Dungeons & Dragons virou dentro disso, é preciso olhar para além das palavras doces do release e encarar os números. Frio, preto no branco, sem glossário.
A anatomia do lucro: 49,8% de margem, 46% de crescimento, zero impacto tarifário
Comecemos pela divisão Wizards and Digital Gaming. A estrela do trimestre.
- Receita líquida: $462,1 milhões (crescimento de 46% frente ao Q1 2024)
- Lucro operacional: $230,0 milhões
- Margem operacional: 49,8%
- Comparação com Q1 2024: margem aumentou 11 pontos percentuais (de 38,8% para 49,8%)
Traduzindo: quase metade de tudo que entra vira lucro. Nenhum outro setor da Hasbro, nem mesmo os brinquedos licenciados pela Disney ou a linha Transformers, chega perto disso.
Para você ter uma ideia, a divisão Consumer Products — aquela onde vivem as marcas mais conhecidas da Hasbro — apresentou:
- Receita líquida: $398,3 milhões (queda de 4%)
- Lucro operacional ajustado: -$31,0 milhões
- Margem ajustada: -7,8%
E isso melhorou em relação ao ano anterior, onde a margem foi de -9,2%. Em outras palavras: enquanto a Wizards praticamente imprime dinheiro, o setor de brinquedos físicos consome caixa.
A divisão Entertainment, por sua vez, teve:
- Receita: $26,7 milhões (queda de 5%)
- Lucro operacional ajustado: $17,4 milhões
- Margem ajustada: 65,2% — mas puxada por exceções e cortes, não por escala
Ou seja: a única divisão sustentável, escalável, e resiliente da Hasbro hoje é a Wizards. Todo o resto está oscilando entre prejuízo, risco e ajustes. E isso molda o futuro estratégico da companhia.
O peso das tarifas: quem sangra e quem sobrevive
O pano de fundo disso tudo é o drama tarifário.
Desde 2023, o conflito comercial EUA-China impôs tarifas de até 145% sobre brinquedos fabricados na China. E segundo a CFO Gina Goetter, o impacto potencial das tarifas em 2025, se aplicadas em sua totalidade, varia de US$ 100 a US$ 300 milhões de impacto bruto. Mesmo com mitigação, o impacto líquido ainda seria de US$ 60 a US$ 180 milhões.
Mas aqui entra a estratégia de engenharia industrial:
- 50% dos brinquedos vendidos nos EUA ainda vêm da China
- A Hasbro está acelerando o plano de diversificação de fornecedores
- A Wizards já opera com 90% da produção fora da China, concentrada nos EUA e Japão
Resultado? A Wizards não sofre com tarifas. Ou melhor, sofre tão pouco que virou escudo contra a instabilidade. Ela financia os prejuízos das outras divisões. Ela blinda a Hasbro da volatilidade. E com isso, ganha poder.
Tabelas comparativas: o império dos dados
Indicador | Wizards of the Coast | Consumer Products | Entertainment |
---|---|---|---|
Receita (Q1 2025) | $462,1M | $398,3M | $26,7M |
Receita (Q1 2024) | $316,3M | $413,0M | $28,0M |
Crescimento | +46% | -4% | -5% |
Lucro Operacional (Q1 2025) | $230,0M | -$43,9M (GAAP) | -$11,2M (GAAP) |
Margem Operacional | 49,8% | -11,0% (GAAP) | -41,9% (GAAP) |
Impacto tarifário estimado | < $10M (anual) | > $100M (exposição alta) | Médio |
A divergência é gritante. O setor que lida com papel e regras de fantasia tem números de fintech. Enquanto isso, bonecas da Peppa Pig e figuras dos Transformers imploram por resiliência.
O jogo dos acionistas: EBITDA, amortizações e dividendos
Não se trata só de lucro. Trata-se de narrativa corporativa.
A Hasbro apresentou um Adjusted EBITDA de $274 milhões no trimestre — 59% acima do mesmo período de 2024. E esse número é importante porque serve para mostrar aos acionistas que, mesmo com ajustes e pressões, a companhia entrega resultado antes das “contingências contábeis”.
Boa parte desse resultado vem da estratégia de “transformation initiatives”, que inclui:
- Corte de custos
- Fechamento de linhas ineficientes
- Redução de pessoal
- Consolidação da logística
- E, claro, priorização do portfólio lucrativo (leia-se: Wizards)
Enquanto isso, a empresa devolveu:
- $98 milhões em dividendos
- Reduziu dívida em $50 milhões
- E manteve a projeção de pagar $0,70 por ação no segundo trimestre
O recado aos investidores é claro: estamos navegando a crise e protegendo sua grana. E quem está garantindo isso? Wizards.
O que isso significa para o futuro dos jogos (e dos jogadores)
Se a Wizards seguir nesse ritmo, e a Hasbro continuar centralizando operações, veremos em breve um cenário onde:
- RPGs e TCGs serão os produtos de elite da empresa
- Os brinquedos físicos se tornarão licenciamentos terceirizados (asset-light)
- A estrutura de preço dos produtos Wizards se desvinculará do consumidor médio
- E o RPG como experiência de mesa se tornará secundário ao RPG como símbolo cultural
A Wizards é o banco de ouro da Hasbro. E como qualquer banco, ela pensa em portfólio, não em mesa de jogo.
O Player’s Handbook pode até continuar falando de elfos e magos, mas quem escreve o roteiro de verdade agora é o CFO (Gráfico de Fundo de Ações).
O tabuleiro vazio: demissões, veteranos de volta e os múltiplos futuros possíveis da Wizards of the Coast
Vamos falar de cenários. Não os de Forgotten Realms, mas os da realidade. Porque se o jogo está mudando dentro da Wizards, é porque o jogo mudou fora da mesa.
Se 2025 começou com um estrondo financeiro para a Wizards, ele também começou com um eco estranho pelos corredores da criação. O som de portas se fechando. Cargos sendo esvaziados. Nomes de peso saindo de cena. E, em paralelo, vozes antigas voltando ao palco — com novas intenções e uma velha cartilha na mochila.
Na superfície, os balanços falam de sucesso. Mas nos bastidores, o que se vê é reestruturação. E se a história da Hasbro com suas franquias nos ensinou algo, é que reestruturações precedem reprogramações. E que nenhum produto cultural, por mais épico que pareça, está imune à lógica do lucro.
A dança das cadeiras: Jeremy Crawford, Chris Perkins e o fim de uma era criativa
No dia 8 de abril de 2025, o Artifício noticiou a saída de Jeremy Crawford, designer-chefe de regras da 5ª edição, do time criativo da One D&D. Um dia depois, Chris Perkins, o homem que moldou as aventuras canônicas da 5e — e rosto visível da linha editorial por mais de uma década — anunciou sua aposentadoria.
Não são só demissões. São rupturas de visão.
Crawford não era apenas um designer. Ele era o arquiteto da estrutura moderna de D&D. Perkins era o dramaturgo, o lorekeeper, o último elo direto com a época de quando D&D ainda era uma saga antes de ser um SKU. Juntos, eles sustentaram a 5e por mais de dez anos — mais tempo que qualquer edição anterior teve de estabilidade.
A saída de ambos no mesmo trimestre do maior crescimento da divisão Wizards é, no mínimo, simbólica.
E o que vem no lugar?
Greg Bilsland.
Um nome conhecido de quem viveu a edição mais mecânica, ousada e divisiva da história de Dungeons & Dragons: a 4e. Bilsland foi editor sênior de conteúdo da 4ª edição e depois migrou para a gestão de eventos e relações com comunidades. Agora, em 2025, ele volta à Wizards, após anos fora da empresa, como parte de uma reestruturação editorial ainda não totalmente explicada.
Quem conhece a história da 4e — por mais que seja minha edição, como mecânica, predileta, seu contexto foi controverso e isso pode nos mostrar o que pode significar.
Três cenários possíveis para o futuro da Wizards pós-reestruturação
Vamos aos dados. E depois, aos destinos.
Cenário 1 – “D&D como plataforma”: o futuro é digital, live e licenciado
Com o crescimento do Magic Arena e de Monopoly Go!, a Wizards já demonstrou que o modelo digital-first é o mais lucrativo. Aplicar essa lógica ao RPG significa:
- Menos livros físicos
- Mais conteúdo digital escalável (assinaturas, DLCs, bundles)
- Sistema modular em VTT (Virtual Tabletop)
- Aventuras como temporadas, não como PDFs estáticos
Comparativo de margens estimadas:
Produto | Custo de Produção | Escalabilidade | Margem Bruta Estimada |
---|---|---|---|
Livro físico (capadura, distribuição global) | Alto | Baixa | 35% |
Livro digital (D&D Beyond) | Baixo | Alta | 70%+ |
Microtransações (skins, VTT) | Mínimo | Altíssima | 85%+ |
O retorno financeiro aponta para um caminho claro. Mas o risco é grande: transformar D&D em “plataforma” pode afastar parte do público tradicional, que valoriza o ritual do papel, da mesa e da improvisação. A Wizards pode perder o coração do hobby — mas conquistar o bolso de um novo público.
Cenário 2 – “D&D como franquia transmídia”: o novo MCU da fantasia medieval
Outra possibilidade: expandir D&D como marca, não como sistema. O filme de 2023, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, apesar de resultados financeiros apenas razoáveis, pavimentou o caminho. A Hasbro quer franquias. E D&D, com sua tonelada de IPs e mundos prontos (Eberron, Ravenloft, Planescape), é uma mina de conteúdo para:
- Séries animadas (como Critical Role já provou ser viável)
- Games licenciados (vide o fracasso/experiência de Dark Alliance)
- Linhas de brinquedo baseadas em personagens icônicos (Drizzt, Minsc, Vecna)
Neste modelo, o livro de regras vira um acessório. O jogo vira marketing. O lore vira produto.
Estimativa de receita por mídia (2024, fontes internas da Hasbro):
Mídia | Receita anual estimada (US$) |
---|---|
RPG impresso | $150M |
Produtos digitais (D&D Beyond, microtransações) | $220M |
Licenciamento de mídia (filmes, games, brinquedos) | $350M+ |
O caminho parece lógico. Mas o risco é perder o controle autoral e a coerência interna. E, pior: transformar um universo orgânico, criado por jogadores, em parque temático.
Cenário 3 – “D&D como boutique de colecionador”: o modelo Apple do hobby
O mais discreto, mas talvez o mais realista. Aqui, D&D vira um artigo premium.
- Livros em tiragens limitadas
- Capas alternativas
- Edições de luxo com extras físicos e digitais
- NFTs de arte conceitual
- E aventuras “de autor”, como campanhas de Brandon Sanderson, Matt Mercer, etc.
Já vemos sinais disso com os livros Beadle & Grimm, ou as edições comemorativas da 1ª edição. Isso cria escassez artificial. E aumenta o ticket médio de compra.
Preço médio de produtos Wizards por segmento (estimado 2025):
Produto | Preço Médio |
---|---|
Livros básicos (PHB, MM, DMG) | $49,99 |
Edição alternativa de colecionador | $69,99 – $99,99 |
Caixa de aventura completa (miniaturas, mapas) | $119,99 – $149,99 |
Assinatura D&D Beyond (com extras) | $5 – $15/mês |
É um modelo rentável, mas que separa ainda mais jogadores “de verdade” dos consumidores casuais. E exclui quem entra pelo amor, não pelo cartão de crédito.
O tabuleiro está montado. Mas quem vai jogar?
Com a saída de Crawford e Perkins, e a volta de Bilsland, a direção criativa está em disputa. De um lado, o legado da 5e — acessível, inclusiva, baseada em narrativa e modularidade. Do outro, o tecnicismo e fechado da 4e, agora em novo formato digital, escalável e vendável.
A Wizards de 2025 pode ser o que ela quiser. O mercado abriu espaço. A Hasbro deu carta branca. Mas a pergunta segue: onde isso deixa os jogadores?
Se os livros virarem pacotes digitais, se o sistema virar serviço, se a comunidade virar marketplace… o que acontece com quem só quer reunir os amigos na sexta à noite e rolar um dado?
A resposta virá. Mas talvez, quando ela vier, a ficha já tenha sido convertida em login.
O post D&D Impulsiona Lucro da Hasbro em 2025 foi escrito pelo Artifício RPG, especialista em conteúdo de RPG em Português!
——————-
Artifício RPG. lançou um novo conteúdo!
Em 2025, a Hasbro posiciona Dungeons & Dragons como um dos principais pilares financeiros, destacando sua importância estratégica no portfólio da empresa.
O post D&D Impulsiona Lucro da Hasbro em 2025 foi escrito pelo Artifício RPG, especialista em conteúdo de RPG em Português!
——————-
Post Original em: Read More
Share this content:
Charles Corrêa, também conhecido pelas alcunhas “Overmix” ou “Nandivh”, é um apaixonado por RPG e desenvolvimento web. Residente em Porto Alegre/RS, estuda programação desde 2001 e trabalha na área desde 2010.
No mundo do RPG, iniciou sua jornada como jogador em 2014 e, desde 2018, dedica-se a mestrar campanhas envolventes e desafiadoras, especialmente dentro dos gêneros de horror e dark fantasy.
Com experiência em sistemas como D&D 5e, Pathfinder, Cthulhu Dark, Vaesen e, mais recentemente, Savage Worlds, Charles também nutre uma curiosidade especial por Rastros de Cthulhu.
Conhecido entre seus jogadores como um mestre sádico, ele adora desafiar até mesmo os mais experientes combeiros, criando missões e encontros que exigem estratégia e criatividade. Inicialmente utilizando o Roll20 como plataforma, atualmente conduz suas campanhas no Foundry VTT, sempre buscando formas de melhorar a experiência de seus jogadores, aplicando seus conhecimentos em programação para aprimorar a jogabilidade e imersão.
Deixe uma resposta