Assalto ao Pyramid Plaza

Assalto ao Pyramid Plaza

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Eu estava concentrada, mas ainda faltavam quatro pinos para destrancar o cofre. O relógio estava marcando pouco menos de 4 minutos, e era o suficiente pra eu arrombar. Eu sabia que o chefe não gostava de cofres digitais porque poderiam ser hackeados, e por isso ele tinha aquele Mosler original de 1m de altura e meia tonelada, onde guardava os documentos mais importantes na sua sala. 

Click! Estava a três pinos de abrí-lo. Pela lente vermelha dos meus óculos dava pra ver o resto do bando balbuciando. Uns me xingavam, outros comentavam baixo enquanto olhavam para a minha bunda. Eles riam, sem notar que eu estava usando fones de ouvido. Talvez pensassem que eram para ouvir o clique das engrenagens, mas na real eu tava ouvindo ACDC no talo. A arte da abertura de cofres mecânicos é sentir a vibração do estalar das engrenagens.

— Como é, maneta? Consegue abrir esse cofre ainda hoje?

Como não dei importância, Damasco me deu uma catucada com o pé para chamar minha atenção. Olhei de cima a baixo e cuspi meu chiclete no couro do sapato ridículo dele. Eu mostraria o dedo do meio e mandaria ele se foder, se o Victor não tivesse arrancado minha mão direita na noite anterior. Mais de dez anos trabalhando pra esse porco desgraçado e é isso que eu ganho (ou perco) por falhar numa missão.

Mas eu estava de boa. Ele achou que me deixaria maneta e ficaria por isso mesmo, mas estava enganado. Tinha muita gente de olho nas promissórias que o Victor tinha recebido do Don Carmino pelas dívidas que o cartel contraiu na fronteira de Juarez. Foram milhões pagos em notas assinadas com sangue que seriam reconhecidas e aceitas por qualquer banqueiro de Las Vegas.

Reuni sete caras que não tinham nada a perder e armei o golpe. O plano era entrarmos todos no cassino do Pyramid Plaza onde fica o escritório principal do Victor e roubarmos as notas promissórias, dando um prejuízo forte no chefe pra ele aprender a não mexer com Rhonda Locks.

Click! O segundo pino destravou e ainda restavam mais de três minutos até os alarmes dispararem. A impaciência era visível no semblante da equipe, mas eu estava tranquila.

George Line foi o último a chegar e entrou correndo antes de bater a porta com força. Ele estava vestido de garçon com um terno vermelho e usando patins sujos de sangue, que deixaram um rastro que se encerrou no tapete branco de pele de urso.

— Porra! Eles estão vindo! — Eu li as palavras que se revezavam com a respiração ofegante em seus lábios trêmulos. Agora a equipe estava ali, completa, só esperando pelo prêmio antes de fugir. 

Antes disso, os irmãos Dawley foram os primeiros a chegar e entraram pelos fundos vestidos de encanadores. Havíamos entupido um cano importante da cozinha na noite anterior e depois interceptamos a ligação que o cassino fez para a companhia, garantindo a entrada da dupla.

Ramone e Salazar eram jogadores natos e tanta “boa sorte” permitiu que atraíssem a atenção da segurança no cassino, enquanto Jeff limpava os bolsos dos funcionários em busca de chaves e cartões de acesso. Não foi difícil chegar ao topo da pirâmide onde ficava a sala do Victor. O problema era que a sala era toda blindada, à prova de som e de balas e a única saída seria pelo mesmo lugar de onde viemos. Tudo precisava ser sincronizado e finalizado antes do alarme tocar.

Click! O último pino se foi e a trava se soltou num baque seco, deixando uma fresta de dois dedos entre a porta e o cofre. Restava pouco mais de um minuto para nossa fuga. Fiz questão de me colocar ao lado da porta do cofre e abri-la de modo que todos vissem a nossa passagem para a aposentadoria. Mas não havia papéis ou dinheiro.

O cofre estava vazio, exceto por um objeto que se revelou por completo quando Jeff apontou uma lanterna lá pra dentro. Era uma mão. Era a porra da minha mão, com o dedo do meio levantado e amarrada em uma grossa petaca de explosivos, que foram ativados pela abertura do cofre com contagem de apenas dez segundos. Foi o suficiente para eu pensar e agir.

Gritaria e pânico. Os caras não foram profissionais e começaram a tentar abrir as janelas blindadas, sem sucesso. Os irmãos Dawley correram pra porta e tentaram arrombá-la, inutilmente. Ramone, um cabeludo magro com terno prateado, me olhava com um sorriso psicótico, parecendo ler meus pensamentos. Não demorei para jogar a mão com explosivos em cima dele e pular pra dentro do cofre. Tentei fechar a porta, mas Ramone conseguiu segurá-la com uma das mãos. O cofre não tinha alça ou saliências por dentro e a única maneira de fechar a porta era tirando a mão do Ramone dali, e foi aí que comecei a chutá-la. Porém, ele foi puxado violentamente por Salazar, que pretendia também entrar no cofre e os dois começaram uma briga que me emprestou tempo suficiente para puxar a porta com um pano.

Junto com a explosão, soou o alarme. 

Como dizem “a gente dá a mão, e esses putos querem o corpo todo”.

Baseado em Wiseguys, um cenário de RPG para Savage Worlds que aborda a vida do crime organizado, este conto em breve será uma aventura. Alguns dos termos e jargões encontrados aqui fazem parte do livro. Acompanhe e participe do financiamento coletivo de Wiseguys clicando no botão abaixo.

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Assalto ao Pyramid Plaza - RPG - Role Playing Game

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Charles Corrêa

Charles Corrêa, também conhecido pelas alcunhas "Overmix" ou "Nandivh", é um apaixonado por RPG e desenvolvimento web. Residente em Porto Alegre/RS, estuda programação desde 2001 e trabalha na área desde 2010.

No mundo do RPG, iniciou sua jornada como jogador em 2014 e, desde 2018, dedica-se a mestrar campanhas envolventes e desafiadoras, especialmente dentro dos gêneros de horror e dark fantasy.

Com experiência em sistemas como D&D 5e, Pathfinder, Cthulhu Dark, Vaesen e, mais recentemente, Savage Worlds, Charles também nutre uma curiosidade especial por Rastros de Cthulhu.

Conhecido entre seus jogadores como um mestre sádico, ele adora desafiar até mesmo os mais experientes combeiros, criando missões e encontros que exigem estratégia e criatividade. Inicialmente utilizando o Roll20 como plataforma, atualmente conduz suas campanhas no Foundry VTT, sempre buscando formas de melhorar a experiência de seus jogadores, aplicando seus conhecimentos em programação para aprimorar a jogabilidade e imersão.

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